sábado, 25 de junho de 2011

Campina Grande: o São João mais esperado atrai multidões


Na Paraíba, a festa atrai dois milhões de visitantes que circulam pelo arraial durante todo o mês da comemoração. Os hotéis estão cheios e o povo continua chegando.

BEATRIZ CASTROCampina Grande
É a maior festa do Nordeste. A mais esperada do ano. A mais alegre de todas. As cidades se enfeitam. Grandes, pequenas... No interior mais distante, as ruas ficam cheias. As famílias se reúnem. São 31 dias de muita alegria.
Em Campina Grande, na Paraíba, o arraial gigante atrai multidões. Dois milhões de visitantes circulam pela cidade durante um mês inteirinho de comemorações. A cidade respira São João. Os hotéis estão cheios e o povo continua chegando.
“Olha que alegria, que energia positiva, não tem nada melhor”, declara a publicitária Márcia Santos.
Nem no final de ano e no carnaval tem tanta gente. Trabalho garantido para a camareira Poliana Kath, que não poderia estar mais feliz. Esse São João será especial para ela. “Foi nele que eu tive a oportunidade do meu primeiro emprego. Não fixo, mas, com certeza, nestes 30 dias posso ter a oportunidade de ficar aqui”, relata.
Se não tem hotel, os moradores abrem suas casas para acolher quem vem de fora. Dona de pousada, Doralice Ferreira adora receber os visitantes. “A casa fica cheia nesta época e eu correndo de um lado para o outro e achando bom, porque eu estou me divertindo e trabalhando. Fazendo ginástica”, conta.
O primeiro andar da casa ganhou camas, colchões, ventilador e televisão. Tudo para agradar os hóspedes. “Os que vêm aqui gostam de tudo: é de João Pessoa, é do Rio, é de São Paulo. De todo lugar vem gente pra cá”, revela a dona da pousada.
Os paraibanos gostam de dizer que Campina Grande faz o maior São João do mundo. E essa fama toda não é mania de grandeza. A dimensão da festa foi estudada, pesquisada e calculada durante três anos, pela professora Zulmira Nóbrega, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

“O maior São João do mundo em termos de economia, em termos de valorização da cultura, em termos de felicidade, de celebração à vida, de alegria, que eu acho que a maior mercadoria, o maior ganho é a autoestima. É o orgulho do campinense em promover grandiosa festa”, conta a professora.
O povo se diverte na maratona de dança e música. São mil horas de forró. Tanta energia vem das comidas típicas desta época: todas à base de milho. Pamonha, canjica ... aos milhares.
Muita gente dá um duro danado para saciar o apetite de todo esse povo. A festa gera trabalho e renda para 10 mil pessoas em Campina Grande.
A homenagem aos três santos mais festeiros do calendário é embalada pela música alegre dos nordestinos. Em Campina Grande, os trios de forró se multiplicam: são mais de 160. Nesta época, gente anônima, das mais diferentes profissões, bota a sanfona no peito e se transforma em artista.
Sanfoneiro dos bons, Edglei Miguel tem outra atividade no dia a dia. Ele trabalha em um hospital como técnico em radioterapia. É responsável pelo tratamento de pacientes com câncer. A alegria da sanfona ajuda no trabalho. “Um compensa o outro. Aqui, nós temos que ser alegres o tempo todo porque a partir do momento que o paciente descobre que está com câncer a autoestima dele cai”, explica Edglei.
O sanfoneiro, que transita por realidades tão diferentes, conhece bem o valor da alegria. “Eu me sinto realizado tocando, fazendo o que eu sei e o que eu gosto de fazer”, diz. Eles fazem o que gostam e melhor ainda: ganham mais dinheiro.
“Eu acho que o mês de junho, para gente, sanfoneiro, forrozeiro, é igual no final do ano quando tem o décimo terceiro. Então, a gente chega... Ah, vou comprar um carrinho, vou fazer uns shows aí, vou comprar um carro. Tem uns que já dizem: vou comprar um instrumento melhor. Não, vou fazer a minha casa”, revela o sanfoneiro Joquinha Gonzaga.
Sanfoneiro é a alma da festa nos grandes palcos, nas palhoças e nas ruas das cidades do interior. Em Campo Maior, no Piauí, eles também animam a praça central. Lá, tudo é como antigamente. As famílias acompanham o movimento na porta das casas.
“Esse festejo nos atrai há muito tempo”, diz o assessor legislativo Erivan Napoleão.
As barracas de comidas estão sempre cheias. O estoque é reforçado à espera dos fregueses que têm hora marcada para chegar. Sempre depois das missas em louvação aos santos juninos.
“A novena demora quase duas horas. Então, o povo fica lá e quando vem aqui, vem avançando”, conta aos risos a cozinheira Enerina Bandeira.
A quermesse só é completa com o leilão que atravessa a noite inteira. Os lances são disputados. E tem muito o que comprar.
“Nós temos 100 carneiros e bodes, temos 480 galinhas, feijão em litro, abóbora”, afirma o anotador do leilão Antônio Carlos de Araújo.
Uma festa contagiante que não para de crescer desde que os portugueses chegaram trazendo a devoção aos três santos do mês de junho. Um espetáculo da alegria e da fé dos brasileiros.
 
Globo Reporter.

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